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Crônicas da ACEPUSP: “Um olhar sobre o começo”, por Patrícia Amorim

Crônicas da ACEPUSP: "Um olhar sobre o começo", por Patrícia Amorim

Rubem Alves uma vez falou que “a vida não pode ser economizada para amanhã, pois acontece sempre no presente”, que “A alma é uma borboleta… há um instante em que uma voz nos diz que chegou o momento de uma grande metamorfose. Metamorfose, essa que surgiu de uma ideia de três irmãos e vários amigos que resolveram sonhar com eles. Conversas de bar, rodas da FFLCH e de repente um projeto nasce no CCE da USP. Esse era o local em que todos da Universidade podiam utilizar os computadores. Numa mesa próximo a minha, um rapaz cabeludo da Filosofia escrevia, às vezes chegava os amigos da Física, da Matemática, da História e de repente surge uma fagulha, que se transforma numa fogueira, que foi alimentada nos gramados entre os blocos D e F do Crusp.

Todos começamos a moldar o que queríamos e como efetivar a ideia dos irmãos Martins Fontes. Criamos grupos, encontramos os espaços para as aulas, conseguimos uma sala no térreo do Bloco F, panfletamos, e como todos panfletaram… Yuri, Igor, Ferenc, Rose, Vampeta, Tati, Renato, Well, Júlio, Ana Lú, Alê, Gabi, Ana Cris, Mineiro e tantos outros.

Surgiram os alunos, aulas na FFLCH e no Instituto Butantan, crescemos rápido. Conseguimos alugar uma sala na rua Pirajussara, em frente ao Rei das Batidas. Como era divertido e inspirador ver nossos alunos descobrindo que era possível transpor os muros das universidades! Descobrirem que era direito deles aquela ocupação e… mais que isso: Que a mera entrada era uma subversão à lógica opressiva que a sociedade impunha ao filho dos mais pobres.

Com o tempo, já não cabemos mais na USP. O projeto deixou de ser Associação Cultural de estudantes e Pesquisadores da USP e criamos o Cursinho da Acepusp. Também ganhamos casa nova: a rua da Consolação, 1909. Fizemos projetos como Afroindígena, Espetáculos, São Caetano, Ribeirão Pires. Neste ponto, não era apenas uma ação, mas alunos, ex-alunos, professores, amigos que se inseriram naquele sonho e multiplicavam ideias. Tinham projetos, culturais, grupos de estudos políticos, grupos de estudos para auxiliarem os alunos a suprir a defasagem educacional pela qual passaram. Ações multiplicativas, como agentes que propagavam e propagam saberes até hoje.

Depois de mais de 20 anos, só há uma reflexão a ser feita: Sabemos que é difícil sair do casulo que a universidade nos oferece e que dá um medo danado de escolher uma carreira, de se inserir em grupos de estudos, pesquisas, criar projetos, mas quando se faz escolhas coletivas, quando se faz outros sonharem junto por uma conjuntura social mais justa, a realidade surge e dá frutos. Nossos alunos, como borboletas perceberam que cresceram, aprenderam que buscar e correr atrás dos sonhos é possível. Voarem para horizontes desconhecidos para fazerem o diferente de uma forma positiva, para deixarem um bom legado para o mundo é essencial. Hoje, não faço mais parte da ACEPUSP, mas ela é parte de mim, da minha história e de várias outras pessoas que entraram na brincadeira de se opor contra um estado estigmatizante, com o intuito de não apenas melhorar a sua condição de vida, mas também melhorar o Brasil, ensinando a importância da atuação de cada indivíduo como o exercício da cidadania.

Para finalizar, deixo os versos de Vladimir Maiakovski:

Brilhar sempre, / brilhar em todo lugar /até os últimos dias do guerreiro/ brilhar –
e sem desculpa nenhuma! / Eis o meu lema –/ e do sol.

Patrícia Amorim.

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