"Cafundó", por Henrique Conti

Dó de quem andou meio mundo e decidiu parar. Fuçou a terra fundo, o mapa do tesouro que criou te enganou! Procurou, procurou. Nada achou além de história pra contar na mesa do bar.

Saiu do lar pra conquistar e a fonte secou. Esvaziou cantil, gastou a sola da bota na costa. Íngreme, subiu ladeira, perdeu esteira e estribeira. Ouviu besteiras, falou bobeiras. Boi de paixão!

Cantou folia, e com alegria derramou o coração; na boca das moças, na estrada dos sonhos. Virou caminhão quando passou reto num tanto de curvas. A visão turva.

O fim do mundo é logo ali, numa esquina que bifurca o fim das penitencias. Judas achou no galho a clemência que a prata não conseguiu lidar. Homem-balança, equilibrado na corda, sufocado no sopro do sonho de achar, há rotina.

Antes tivesse seguido, ido, ido… até voltado, voado pra bem longe. Gritado:

-CAGUEI!!!

Nunca, jamais parar. Antes tivesse sabido; caminhar, desejar e respirar são tudo a mesma coisa. Matam se faltar. O horizonte é um algo que só o olho sabe tocar.

Cafundó, sempre, sempre. Sempre procurar. Encontrar é chão batido, quem pega só sente a si mesmo, e num lembra que cafundó é sempre a outra metade de onde se está!